Monday é dia de terminar de ler o Sunday Times. Compulsiva que sou, recusando a deixar matérias órfãs de leitura, transformo a digestão dos seis cadernos, três suplementos e duas revistas numa missão quase impossível de ser concluída num único dia. Nem a assumida negligência do caderno de esportes torna a tarefa menos árdua. Contam que ontem fui encontrada a meia-noite e meia, literalmente babando sobre a Claudia Schiffer, na tentativa de vencer minha maratona dominical.

Como meus sentidos estavam claramente afetados pelo sono, hoje precisei voltar e checar uma informação que achei ter visto errado ontem å noite. A matéria em questão era sobre a trágica morte do brasileiro abatido por engano no metrô de Londres, por morar no lugar errado, na época errada. E lá estava, num quadro ao pé da página, o número de pessoas mortas pela polícia inglesa desde 1995. Acreditem se quiserem: nos últimos dez anos, no país inteiro, quinze homens, entre culpados e inocentes, foram mortos por policiais em serviço.

Quinze! Em dez anos! E vem o governo brasileiro se dizer "chocado e perplexo" com o "lamentável erro" ocorrido. Eu também estou chocada e perplexa. Chocada com o fato de "lamentáveis erros" como esse acontecerem diariamente no Brasil. (Estou exagerando em arriscar uns quinze "erros" por dia?) Perplexa com o descaso com que esses assasinatos são tratados.

A triste verdade é que se o mesmo "Senhor de Menezes", brasileiro pobre, fosse morto com onze tiros na cabeça, por policiais no metrô de São Paulo, o mesmo governo que envia investigadores para investigar a Scotland Yard (quão hilário é isso?) não estaria nem um pouco perplexo. E nós brasileiros não estaríamos chocados. Aliás, muito provavelmente, ninguém ficaria nem sabendo da existência de um eletricista de 26 anos, que deixou a família no interior para tentar a sorte numa cidade grande, onde, ironicamente, acabou encontrando a morte.


 

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