Será?

Finalmente resolvi dar uma espiada no site We're Not Afraid, criado horas após os atentados ("incidentes" para os eufemistas) do dia sete de julho. Sinceramente não vejo muito sentido. Parece mais uma desculpa para os exibicionistas de plantão infiltrarem suas imagens num site de alcance global. Além de, obviamente, servir como ótima ferramenta de auto-promoção para os (dezesseis!!!) colaboradores oficiais.

Qual extremista muçulmano que se preze, prestes a embarcar para o paraíso, de quebra mandando para o inferno algumas dezenas de "infiéis", vai se sentir intimidado pela foto de um beagle vinda da França? E também não vejo como meia dúzia de layouts fajutos vão me dar coragem para adentrar novamente os claustrofóbicos e vulneráveis túneis do metrô.

Fui evacuada de uma estação minutos após as explosões mal-sucedidas do dia vinte e um e posso garantir que "afraid" era o que as pessoas mais estavam. A calma do dia sete tinha desaparecido e o pânico transparecia na pressa com que os passageiros corriam para as escadas rolantes tentando alcançar a suposta segurançå da superfície.

Como uma londrina (de passagem), sou obrigada a aceitar o desafio do meu irmão e comentar sobre os ataques terroristas desta manhã.

Todos estão mencionando a calma dos londrinos nos momentos que sucederam os ataques. A maioria continuou trabalhando normalmente. Quando, no meio da tarde, ficou claro que o metrô não voltaria a funcionar, foram então se encaminhando, sem muita pressa nem tumulto, para casa.

No trem que peguei, grupos de amigos conversavam banalidades, alguns homens bebiam cerveja e incontáveis passageiros tentavam resolver o Sudoko do dia . Apesar da pequena batalha travada em cada estação entre passageiros que tentavam descer e outros que tentavam subir no trem, não havia tensåo no ar. Nem se ouvia o esperado "a mulher do irmão do cunhado da vizinha do meu avô estava no ônibus que explodiu e falou que..."

Acredito que muita dessa calma tenha sido transmitida pelas equipes de emergência, que trataram do incidente com tanta eficiência. No hospital em que trabalho, por exemplo, meia hora depois da última bomba ter estourado, o pronto socorro e o centro cirûrgico já estavam livres para receber eventuais feridos, leitos tinham sido liberados, e até nós, fisioterapeutas, tinhamos um plano de ação específico pré- determinado.

Mas para muitos - eu inclusive - a ficha ainda não caiu. Ao longo da próxima semana, na medida em que os detalhes forem sendo revelados, talvez essa calma onipresente dê lugar a sentimentos mais condizentes com a situação e as imagens na televisao não pareçam tão surreais.


 

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