Underground

Como todo(a) londrino(a) que se preza, já desenvolvi uma relação de amor e ódio com o metrô local, o icônico "London Underground". Depois do clima, o segundo tema mais requisitado para preencher aqueles silêncios constrangedores de falta de assunto que insistem em invadir qualquer prosa, é o transporte local.

Tenho certeza que "Where do you travel from?" (seguindo "It's absolutely miserable outside!") é a segunda frase mais dita numa conversa entre duas pessoas que acabaram de se conhecer. (Uma vez que você já sabe de onde a pessoa "viaja", segue-se somente com "It's absolutely miserable outside!" nos encontros subsequentes.) Aliás, engraçadíssimo eles usarem o termo "viajar". Basta você entrar num trem para sua jornada de dois quilômetros até o trabalho ser elevada ao status de "viagem". Coisas de inglês...

Amo poder confiar na onipresença do metrô na cidade e saber que em qualquer bairro, por mais perdida ou distante que esteja, encontrar uma estação de metrô equivale a encontrar a porta de casa.

Odeio os atrasos, que, de tão frequentes se tornam comuns, e sempre acontecem naqueles dias em que você resolveu dormir mais dez minutinhos e já está atrasada para o emprego. Aliás, quem inventou a expressão "pontualidade britânica" estava, claramente, desinformado.

Adoro como as pessoas, sem pudor nenhum, transformam os vagões em extensões de suas casas. Mulheres se maquiando com toda a parafernália a que têm direito, estudantes atrasados fazendo tarefa, gente trocando de sapato, saboreando refeições completas, dormindo, falando sozinho, cantando.

Mas odeio quando as pessoas começam a se sentir å vontade demais e cortam a unha (argh!!), sentam no chão do vagão atrapalhando o fluxo e, dormindo, começam tombar a cabeça em direção seu desavisado ombro.

Amo o Metro, o jornalzinho distribuído gratuitamente todas as manhãs que, apesar de não passar de um tablóide disfarçado, é providencial para os dias em que você esqueceu seu livro (acessório essencial para se sentir em sintonia com os outros passageiros). Mas se você está num daqueles dias de atraso e não conseguiu pegar o "Metro", observar os outros passageiros tentando ler o jornal ou a revista do vizinho - principalmente se for de fofoca ou de esporte - é diversão garantida.

Infelizmente, ainda choca a falta de cavalheirismo e bom senso generalizada. Em mais de um ano de viagens diárias, nunca presenciei ninguém oferecendo o assento para idosos, gestantes e afins. Uma vez ofereci meu lugar a uma grávida de uns oito meses e ela ficou tão surpresa que não sabia, por um momento, se aceitava ou não. Tal a gravidade da situação, que o próprio metrô disponibiliza um broche redondo enorme, escrito "Baby on Board" para as grávidas dispostas a pagarem o mico (mas garantirem um assento) usarem. Só na Inglaterra, mesmo!


 

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