O melhor elogio...

... recebemos esta semana, da caixa do supermercado, que se recusou terminantemente a nos vender uma garrafa de vinho se nao mostrassemos documento provando que tinhamos idade legal para a compra. Como nao andamos com passaporte no bolso, saimos da loja sem vinho, mas dez anos mais leves.

Apagao

Ontem presenciei meu primeiro blecaute na Inglaterra. Tecnicamente nao deveria escrever blecaute, ja que foi um "corte de energia programado". O problema e que programaram, mas esqueceram de avisar, entao o efeito pratico foi o de um apagao, mesmo. Como todas as nossas fontes extra-corporeas de calor dependem de eletricidade, os cinco graus outonais nos obrigaram a sair de casa.

Nesses meses em que escurece muito cedo, todo fim de semana a triste e engordativa rotina se repete: acordamos um pouquinho tarde e ate resolvermos o que fazer com as quatro horas de claridade restantes, ja escureceu e acabamos enfurnados, comendo chocolate e tomando vinho alem das doses recomendadas.

Pois o "apagao programado" fez com que desentocassemos e aproveitassemos um pouquinho do tanto que Londres tem a oferecer. E ontem ate sol tinha! Saimos rumo a National Portrait Gallery, mas o clima em Trafalgar Square estava tao bom, que acabamos sentados na escada, absorvendo o solzinho e tirando foto da galera na praca.

Trafalgar Square, meio dia: as sombras acusam a posicao do sol.

Depois, passeamos pela beira do Tamisa, tentando driblar a multidao de turistas e outros londrinos "desentocados" como nos, e, finalmente, buscamos refugio do vento no Tate Modern, que esta com uma instalacao divertidissima de tobogas gigantes.

Tobogas no Tate Modern

Quando saimos, as quatro horas, ja estava escuro, e o jeito foi voltar para casa, torcendo para que a luz tivesse voltado. E tinha. E enchemos a cara de chocolate e vinho. Mas so um pouquinho...

Millenium Bridge as 4:15h. O sol ja era.

Esse nao foi um fator decisivo na escolha do nosso apartamento aqui em Londres - foi mais uma questao de agarrarmos o primeiro em que o fogao ficasse a mais de um metro e meio de distancia da cama - mas a existencia de uma livraria do outro lado da rua foi muito bem vinda.

Morar num lugar tao apertado exige de brasileiros espacosos varias adaptacoes e mudancas de habitos. Uma delas e transformar a vizinhanca numa extensao do lar. Assim, o parque vira quintal, o supermercado vira despensa e freezer, a area de servico fica na saudade e a livraria vira refugio.

Refugio do vento frio no inverno e da falta de vento no verao (o melhor ar-condicionado da rua, disparado). Refugio nas horas de briga, nos dias de pouca inspiracao e nos momentos de tedio.

Dificil e resistir a tentacao. Livro por aqui e artigo relativamente barato e - ao contrario do que acontece no Brasil - entra sempre em promocao. Por dez libras (R$40), o preco de dois "numeros" no Mc Donalds, voce compra tres livros paperback (de "capa mole") em qualquer livraria de rede.

Mas prometi que so vou comprar outro livro quando a minha relacao livros comprados / livros lidos melhorar um pouco. Ontem consegui terminar o delicioso Vanity Fair, mas ainda restam cinco, pela metade, que ja povoam meu criado-mudo ha meses, alem de uns tres ou quatro, nem comecados, na estante.

Na promocao de janeiro, quem sabe...

Comentario que deixei no blog do Tarcisio , e que resume bem a atitude que a falta de espaco londrina me forcou a adotar em relacao a "guardar coisas":

"nesses dois ultimos anos descobri que a gente so compra e ou retem coisas desnecessarias quando o espaco - mais especificamente, a casa dos pais - permite. hoje penso duas, tres, quatro vezes antes de comprar qualquer coisa e nao hesito em jogar coisa fora rapidinho. sem mais aquela de "ah, mas e se um dia eu precisar?". quando voce se livra do objeto potencialmente inutil logo de cara, voce nao da chance para o surgimento de qualquer laco "emocional" com ele e o apego se volta para as coisas que ficam e nao podem ser jogadas fora: no momento, so os livros e os moveis. thank god pelo computador que solucionou o problema de espaco para fotografias e escritos..."

Logo eu, que nunca perdoei minha mae por ter queimado (!!!!), junto com outros cadernos velhos, a apostila do Anglo (1992) com o primeiro recado que o Hermeti me escreveu na contra capa. Logo eu, capaz de perder o sono por nao lembrar ao certo onde esta guardada minha colecao de papel de carta. Logo eu, que guardava papel de presente, flores secas e cartoezinhos "de / para" no Natal.


 

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