Mind The Gap

Hoje vui tirar meu visto da Índia. Ao chegar no consulado, uma fila enorme, mas a mulher na minha frente, despachada e prestativa, percebendo que eu estava no lugar errado, foi logo mostrando a portinha onde eu deveria entrar. Lá dentro, outra escutou minha conversa-interrogatório com o “oficial” e enquanto esperávamos o visto sair, sentou-se do meu lado e, sem a menor cerimônia, começou ela a me interrogar. Contou a história da sua vida e, em troca, queria saber tudo da minha. Me senti no Brasil.

No metrô de volta para casa, conforme o trem se afastava do centro, as pessoas foram descendo, até que sobramos uma senhorinha e eu, sentadas lado a lado no vagão vazio. O silêncio implorava por um comentário bobo, um sorrizinho simpático, um sinal qualquer de reconhecimento mútuo da ironia da situação. Por alguns segundos ela ainda ficou na dúvida se mudava de assento ou não, mas acho que sucumbiu ao medo de desequilibrar-se durante a manobra e contentou-se em suspirar, virar o rosto para o outro lado e afastar seu ombro do meu. Me senti na Inglaterra novamente.

Care for a cuppa?

Vou aproveitar para escrever num dia de sol, porque senão começo a divagar sobre o clima novamente, fico de mau humor, e acabo fazendo injustiça a essa terra chuvosa, porém bela, que me recebe.

Um dos hábitos ingleses fáceis de pegar quando se mora aqui é o de tomar chá. Mas não o famoso chá das cinco, que eu, pessoalmente, nunca presenciei. O chá das nove, quando você chega com frio no trabalho, o chá das dez e meia, uma prévia do intervalo do almoço, o chá depois do almoço, para pôr a prosa em dia, o chá das quatro, que dá forças para encarar o resto do expediente. Daí tem o chá das seis, quando você chega em casa com os pés molhados, o chá das oito, quando tem visita, e o chá das onze, para embalar o sono.

Reconfortante e companheiro quando tomado a só, boa desculpa para encontros em geral; com bolacha, torrada ou bolinho, então, não tem bebida melhor, nem mais inglesa.

V for Vendetta

Pois é, eu queria um banho decente, e foi isso que acabei ganhando.

A represália por ter (carinhosamente) comentado a falta de afinidade dos ingleses com higiene veio antes do esperado.

Passeando pelo bairro em mais um belo domingo de sol (e chuva, e sol de novo, e chuva mais uma vez), o tempo e o vento me pregaram uma peça.

Um toldo vermelho que, de caso pensado, vinha acumulando água na sua barriga desde cedo, resolveu ceder às insistentes pressões do vento bem na hora em que a menina obcecada por duchas, chuveiros e afins estava passando.

Balde de agua fria mais literal que esse, impossivel.


 

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