No meu iPod

Agora, sim, em temperaturas mais compativeis com a vida na terra, crio coragem para desenluvar meus dedos cianoticos e voltar a escrever.

Esta semana minha bolsa esta pequena e meu livro grande, e como ando sem pique para ler tragedias no jornal, resolvi eleger a musica como passatempo durante minhas tres horas diarias de jornada para ir e voltar do trabalho.

Em retrospectiva, a ideia nao foi tao brilhante:

Problema numero 1

Dos fones de ouvido que ja tive o desprazer de experimentar, todos ou machucam ou nao se encaixam na minha orelha. Passo metade do tempo rigida, fazendo movimentos de pouca amplitude para o maldito nao cair, e a outra metade tentando fazer ele parar na orelha de novo. Dai quando consigo, vou distraidamente arrumar a franja, e la vai ele para o meu colo, em atitude de pura pirraca.

Problema numero 2

Embora os entendidos digam que as pessoas estao cada vez mais usando os tocadores de mp3 como arma contra a solidao (nao entendo muito essa teoria, mas vou dar um credito), impossivel me sentir mais solitaria do que quando estou acusticamente isolada do mundo ao meu redor. Me irrita nao ouvir a pomba ciscando do meu lado na plataforma ou as fofocas das school girls no trem. Preciso ter assunto para o almoco, ne? Alem do mais, me estresso cada vez que tem um anuncio no alto-falante da estacao e preciso abrir a bolsa para abaixar o volume da musica. Acho que eu sou a unica control freak que faz isso, mas isso ja era esperado.

Problema numero 3

Seis anos de solidao no transito pesado de Sao Paulo criaram em mim um pessimo habito: cantar alto acompanhando a musica. Vulgo pecado mortal para qualquer pessoa que deseje manter a imagem de minima sanidade mental no transporte publico londrino. Ate os loucos respeitam a regra nao escrita de "do not sing along". De fato, nunca vi ninguem cantando. Nem mexendo os labios, que seja. Mas a regra de "nao colocar o volume no maximo e irritar o vagao inteiro as sete da manha", ninguem parece respeitar muito. Experimentem ouvir O Bebado e a Equilibrista ou Relicario sem cantar junto. Talvez seja uma coisa pessoal, mas eu nao consigo, e quando vejo, ja estou dando uma de louca. (Deixa o Her saber...)

O que era para ser um prazer acaba se tornando um sacrificio e agora eu entendo porque nunca quis ter um Walkman.

Mas talvez seja so falta de costume mesmo e um dia eu acabo me adaptando com os malditos fones parasitando minha orelha. Ou viro profissional e compro aqueles enormes, com espuma, para um isolamento decente.


 

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